Pneus ou esteiras em máquinas agrícolas?

Por Francisco Faggion, Tiago Pereira da Silva Correia, Victória Linhares e outros

13.06.2025 | 13:23 (UTC -3)

Quando o assunto é compactação do solo causada pelo tráfego de máquinas agrícolas, especialmente tratores pesados, colhedoras e máquinas florestais, os tipos de rodados podem ter influência direta. Rodados pneumáticos (ou simplesmente pneus) e esteiras são os principais tipos de rodados agrícolas, sendo predominante os pneus. Contudo, ambos tem ado por evolução tecnológica nos últimos anos.

Existem duas opções principais de pneus, os diagonais e os radiais. Os diagonais possuem a característica construtiva de lonas dispostas de talão a talão e em sentido transversal (em ângulos de 30 a 45°) a eles, ocupando toda banda de rodagem e flancos. Esse tipo de construção configura aos pneus diagonais uma banda de rodagem “ovalada”, em formato elíptico, com baixa área de contato com o solo. Já os pneus radiais são construídos com lonas dispostas perpendicularmente aos talões e de flanco a flanco, sendo a banda de rodagem acrescida e reforçada com lonas longitudinais à banda de rodagem, configurando-a com formato mais “plano” e rígido, menos elíptico e de menor deformação, com alta área de contato com o solo.

A agricultura moderna possui uma opção avançada de pneus, os radiais de baixa pressão e alta flutuação (BPAF) com características construtivas intermediárias entre diagonal e radial, sendo os principais diferenciais deste tipo o reforço dos flancos e a possibilidade de utilização de baixas pressões de inflação para o trabalho, o que lhe confere maior flexibilidade.

Guardadas as diferenças construtivas, na prática os pneus radiais e especialmente os BPAF, quando devidamente montados e inflados apresentam vantagens de causar menor compactação dos solos, patinagem e consumo específico de combustível e maior capacidade de tração, eficiência da transferência de potência do motor e rendimento operacional que os diagonais. Contudo, os pneus diagonais possuem maior resistência a danos como furos e rasgos, devido a flancos mais espessos, bem como menor custo de aquisição.

Os rodados do tipo esteiras não possuem uma classificação formalmente definida e atualizada, dessa forma são subdivididos simplesmente quanto ao material da construção em aço (rígida) ou borracha (flexível), podendo ser esteira completa ou semi-esteira (meia-lagarta). Além disso tanto as esteiras quanto as semi-esteiras podem ser oblongas (alongadas) ou triangulares.

Para fins agrícolas as esteiras de aço estão caindo em desuso, pois predominantemente possuem maior peso, menor flexibilidade nos cubos redutores e no terreno, menor velocidade de trabalho e rendimento operacional e maior consumo especifico de combustível que as de borracha.

Qual utilizar?

Pneu ou esteira, qual utilizar? A resposta não segue uma regra consolidada e a tomada de decisão deve levar em consideração a frota agrícola (tipos de tratores, colhedoras e implementos), operações agrícolas a serem realizadas, principais culturas, tipo de solo, topografia e nível de tecnificação da propriedade. Agronomicamente a escolha prioriza o aspecto compactação dos solos, cujo senso comum das pesquisas indica vantagem para as esteiras.

Quando comparadas com os pneus, as esteiras apresentam maior área de contato com o solo, e com isso dissipam melhor a carga estática (peso) e dinâmica da máquina, principalmente de tratores com média/alta potência e peso, retardando e reduzindo os índices de compactação dos solos. Contudo, a utilização de pneus modernos gera controvérsias entre os especialistas, pois podem ser utilizados pneus duplados (filipados), com área de contato com o solo alta.

Em função da presumível maior área de contato das esteiras, os tratores com elas equipados tendem a apresentar maior capacidade de tração em virtude da redução da patinagem e melhor eficiência da transferência de potência e interação rodado/solo. Essas características propiciam aos tratores esteirados maior velocidade operacional e consequentemente maior rendimento operacional. Com isso são mais adequados para áreas planas e extensas.

Em relação aos fatores ergonomia e dirigibilidade, que podem ser traduzidos em bem estar humano e desempenho global do sistema, tratores equipados com pneus apresentam maior suavidade e maciez em terrenos com superfície irregular. Outra situação em que os pneus expressam vantagem é o deslocamento em estradas, além de apresentarem menor desgaste e consumo de combustível. Em se tratando de custos, incluindo aquisição, instalação e manutenção, os pneus apresentam menores valores. Existem mais peças móveis numa esteira, especialmente nas metálicas do que num cubo de roda de um trator com pneus.

No setor sucroenergético as esteiras têm conquistado espaço, sendo instaladas em tratores, transbordos e caminhões agrícolas, possibilitando a realização de operações mesmo em condições de solo úmido. Há relatos de produtores que utilizam tratores com esteiras na produção de hortaliças com a justificativa de ser possível retirar da lavoura os produtos colhidos mesmo em dias de chuva e solo encharcado permitindo, assim, a obtenção de preços melhores, o que pode justificar o investimento.

Uma alternativa oferecida ao produtor é a configuração de semi-esteiras, quando em tratores agrícolas 4 x 2 TDA o eixo dianteiro é equipado com pneus e o eixo traseiro (tração principal) equipado com semi-esteiras. Esta configuração não se aplica a tratores agrícolas com tração 4 x 4, pois nestes todos os rodados devem ser do mesmo tipo, podendo ter quatro pneus ou quatro semi-esteiras. No caso de colhedoras de grãos as semi-esteiras ocupam o eixo dianteiro, de tração principal. A configuração com semi-esteira pode ser compreendida como o equilíbrio entre pneus e esteiras, com a possibilidade de equalizar custos e obter boa capacidade de tração, consumo de combustível e rendimento operacional, além de viabilizar a operacionalização em terrenos encharcados.

No cultivo de arroz em terras baixas onde o solo fica alagado até alguns dias antes da colheita e até mesmo na colheita, as semi-eteiras são bastante utilizadas e seu desempenho é superior aos pneus. Contudo há que se considerar que nessas áreas a compactação do solo não é um fator extremamente preocupante, pois a irrigação por inundação facilita a penetração das raízes no solo e, eventualmente, a compactação é benéfica por diminuir os problemas de falta de sustentação desses solos, diminuindo o atolamento das máquinas.

Atualmente algumas propriedades tem adotado o tráfego controlado de maquinas na lavoura, em que o trajeto das máquinas é pré determinado e orientado por sistemas de georeferenciamento e piloto automático, sendo sempre realizadas as mesmas rotas, desde a semeadura até a colheita. O sistema visa evitar a compactação aleatória do solo e amassamento de plantas, sistematizando o pisoteio dos rodados em trajetos definidos e conhecidos onde a compactação é aceita.

Cada sistema tem seus prós e contras, por isso é importante conhecer melhor as características e peculiaridades de cada um, não devendo a tomada de decisão ser realizada de forma generalizada. Sugere-se que seja realizado estudo de caso e que o agricultor busque auxílio técnico a fim de avaliar o melhor tipo de rodado para sua realidade, de modo que o selecionado seja capaz de realizar o trabalho da melhor maneira possível.

Por Francisco Faggion, Tiago Pereira da Silva Correia, Victória Linhares, Aline Biazioli de Pinho, Haniel Carlos Gomes da Cruz, Brenda Jhully Alves Moreira, Pedro Henrique Gomes Alves (Lamagri/UnB)

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